Restaurante

Terceiro piso. Possui diversas modalidades de pratos no cardápio. E também serviços, incluso o tão amado self-service, que é opcional.

Bocejou ao entrar no local e já foi se dirigindo para o balcão, aquele era um perdido sério e urgente. Após pagar a quantia [-20$ por causa da crise], ele voltou com dois copos de café para a mesa. Depois pediria mais.

— Desculpe, nem sei se você gosta. —Ofereceu a ela um copo, com um sorriso espontâneo. Aquele era o lado Ethan entrando em ação... Até ouvir falar em guerra. Ele ficou em silêncio, encarando-a. Ela estava nervosa. E pelo jeito tinha informações privilegiadas. Ela estava envolvida também?

Sentou-se ao lado, reabrindo o sorriso e tomando um gole do próprio copo. Sua feição mudou após. Parecia satisfeito, tranquilo, mesmo após o que a mulher tinha pronunciado.

— Heh, eu não sei muito sobre ela. Nos vimos poucas vezes mas, ela é uma gracinha. Tão inocente ~ Sinto que devo protegê-la, sabe? — Não mediu palavras. Na verdade, nem percebeu que estava chamando-a de gracinha e inocente também, uma vez que havia comparado as duas. Seria bom que continuasse assim.

— Essa crise está realmente complicada. As coisas estão sumindo... Como mágica! — Apoiou o cotovelo na mesa. Esperava que ela entendesse o trocadilho antes do atendente se aproximar.

Sentou-se à mesa e o esperou, quando retornou com dois copos, nem sabia o que dizer. Da última vez que se sentara para tomar alguma coisa com um homem, ele sumiu. E ela havia mencionado uma guerra, ainda... Suspirou alto, logo sorrindo para a atitude.
— Gosto sim, muito obrigada! — pegou um sachê de açúcar orgânico caseiro da bolsa e despejou no copo, o mexendo antes de beber.

Skylar enrubesceu mais uma vez com o comentário. Coçou a bochecha um pouco avoada antes de sorrir e responder com "a-ah, entendo! Também tive uma irmã mais nova!".

Então, Eon soltou a última frase.
A frase.
Skylar se engasgou com o café, tossindo algumas vezes antes de recuperar a postura. Havia sido proposital?! Ela não podia ameaçar espalhar tudo que Hayden a havia contado...
— A-Ah... S-Sim, tem sido complicado! Haha... — ela definitivamente não sabia disfarçar as coisas.

Riu da reação da mulher. Ela definitivamente sabia de algo. A forçaria a falar? Pareceu pensativo por alguns instantes, depois bufou. Não estava afim. Informações eram tanto um atrativo para ele, mas... Havia um certo receio: Ele tinha saído de casa. Isso não era um bom sinal. Eon levantou o olhar desconfiado, procurando por algo errado. SEMPRE QUE SAIA DE CASA ACONTECIA ALGO COM ELE. Não pode evitar.

— Tinha? O que houve com ela? — Observou o sachê. Sim, devia ser uma médica. O albino acenou para o garçom, olhou o cardápio e pediu. — O que vocês ainda tiverem de saudável. Por favor.

Aquilo há algumas semanas parecia ironia, mas o homem entendeu e se virou para Skylar, indagando-a com educação.

Skylar soltou o ar num suspiro aliviado ao ver a reação de Ethan. Talvez houvesse sido apenas uma coincidência mesmo.
— Ah, ela nasceu com o corpo muito doente... Morreu cedo. — soltou um sorriso triste. Gostava de falar na irmã, mas sentia saudades.

— A-Ah... A mesma coisa que ele. — disse desajeitada e se indagou que comida lhe serviriam.

"Um corpo doente..." Lembrou da própria situação, cerrou os olhos, sonolento antes de olhar novamente Skylar. Ela parecia triste. Sentiu que havia tocado em alguma ferida, o que fez com que recuperasse rapidamente a postura.

— Perdão! Eu não queria lembrar... — Não soube o que dizer. Não fazia o tipo emocional. Os braços gesticulavam tentando se justificar mesmo quando os lábios pararam.

Aguardou em meio ao silêncio desconfortável que o homem servisse e pagou outra facada. A macarronada não parecia tão saborosa quanto o costume, talvez pela falta de alguns ingredientes. As coisas estavam morrendo, aos poucos. Eon suspirou olhando para a comida, lembrando-se novamente de Elderlain e da guerra. Não tinha tempo para aqueles lazeres. Levou a primeira porção a boca, aparentemente chateado com o próprio comentário.

Skylar esperou alguns segundos e riu d leve de sua reação. De fato, a irmã era um assunto um pouco delicado, mas já tinha anos desde sua morte. Ela não poderia ficar presa à ela.
— Não precisa se preocupar, Ethan! — sorriu. — Tenho certeza que ela ficaria decepcionada em me ver triste, hehe!

Quando o prato chegou, pegou um pouco e comeu. Era... Diferente do que esperava. Talvez tivesse superestimado muito.

Voltou a encarar o celular por alguns instantes, vendo a mensagem que havia recebido e respondeu-a. "Tudo bem, mas não quer descansar antes? Ah, você não encontrou a dona da loja não... Né?" Era uma pergunta idiota, se tivessem se enfrentado alguém estaria morto. Uma das duas. E se Claire tivesse morrido... Ele saberia. Ao terminar, pôs-se a mirar novamente Skylar. Ela se esforçava para parecer bem, ele não jogaria os esforços dela no lixo.

— Bom modo de pensar. — Riu ao ver a feição dela ao comer. Riu bastante. Sentiu vontade de fazer uma piada sobre, mas não sabia até quanto ela estava envolvida e ainda não confiava nela.

— Posso ler sua mão?

Ela não havia pedido algo... Saudável? Saudável era sinônimo de sem sabor naquela cidade? Suspirou. Ainda assim, era comida, o que era extremamente difícil de se encontrar aqueles dias. Ao ouvir a pergunta, apenas conseguiu engolir e o olhar. Piadas com mágica... Ler minha mão... Será?

— É a primeira vez que me perguntam isso... — riu de leve, usando o guardanapo e lhe estendendo a mão. — É algum tipo de vidente?

Cessou as gargalhadas após alguns segundos, mas continuou com um sorriso cínico na face. Era divertido ver que alguém tinha uma opinião parecida embora ele estivesse até um tanto acostumado com as comidas de Elderlain para reclamar.

— Você pode me chamar disso! — Eon levantou o olhar por alguns instantes, depois encarou a palma da mão de Skylar. Em poucos instantes ele a tocava, ambos sentiriam um desconforto. Ainda sim, ele passava os dedos pelas "linhas" como se estivesse analisando, porém, desconcentrado. Faltava-lhe ar e ele parecia se esforçar para manter a expressão neutra antes de larga-la.

— Como eu pens... C... — Pressionou as pálpebras, tentando se recompor. Aquilo havia sido o suficiente para verificar. Aquela mulher possuía quase quatro vezes mais circuitos que ele. Aquilo era... Humanamente impossível. Era o novo receptáculo que lhe informaram?

— O que é você?

Fitou-a. Seu tom de voz não aumentou em momento algum.

— Haha, o.k., Sr. Vidente! — respondeu ao comentário com um sorriso. Ele começou a traçar as linhas de sua mão e aquilo era, no mínimo, desconfortável. Não sabia se era porque era a primeira vez dela fazendo algo assim, se ele emanava uma energia ou algo do tipo, mas preferiu ficar quieta. Não queria atrapalhar a leitura.

Inclinou a cabeça mais uma vez, não entendendo a frase. Talvez ele tentasse dizer algo e houvesse engasgado?! Porém, ao ouvir sua continuação, retirou sua mão da dele e se afastou o quanto pôde em sua cadeira. Era a segunda vez no mês que lhe perguntavam aquilo.

— Pode ser que... — olhou para os lados, confirmando que ninguém os ouvia. — ...você é um magi?

Suspirou. Ela parecia uma cega perdida em um tiroteio. Ou estava se fazendo de sonsa. Eon inclinou o corpo sobre a mesa para olha-la nos olhos.

— Sim. E por que você tem mais circuitos que eu? Também é uma aberração? — A palavra "homúnculo" sumiu de seu vocabulário por alguns instantes. Quando a lembrou, já havia dito.

Seu estômago doía um pouco mais a cada palavra que o albino pronunciava. Hayden havia lhe explicado o básico sobre o mundo dos magis, mas... Não sobre sua própria condição. Ela só sabia que... Havia aceitado uma proposta estranha. Mas talvez estivesse sonhando, já que tudo continuava igual até então.

— A-Aberração...? — passou uma das mãos pelo cabelo, nervosa. — Eu não sei te responder isso.

Levou ambas as mãos até o rosto, esfregando-as de cima para baixo. Ao terminar encostou as palmas das mãos uma na outra, entrelaçou os dedos e desceu uma mão para... Tomar outro gole de café. Cafeina era melhor que entorpecentes para ele. Em poucos segundos estava neutro de novo. Chegou também a conclusão de que ela, Skylar, devia ser uma espécie de Allys da vida.

— Sim. Aberração... Nós alquimistas chamamos de homúnculo; Alguns magis de aberração. Como preferir. — Deu outra olhada mais atenta pelo corpo dela. Parecia uma mulher... Saudável. Quer dizer, sua pele parecia perfeitamente normal e não haviam nela nenhum sinal de saúde baixa ou fragilidade. Ela não devia ser uma homúnculo. Se fosse, o alquimista que a produziu estava de parabéns.

— Desculpe meus... — Percebeu que acabou olhando para o decote da mulher e desviou o olhar. Havia sido muito, muito indelicado. — Maus modos. Você realmente não sabe de nada? — Arrumou a postura ao terminar.

Homúnculos. Lehane a havia dito algumas coisas sobre eles.
— Ah, eu entendo agora! Mas não acho que deve se chamar de aberração... — abria um sorriso solidário. — Todo o ser vivente tem um ponto fraco. O seu só é explícito! Como enfermeira e herbalista, posso lhe garantir que não é nada estranho. — expandiu um pouco o sorriso por segundos. — No caso, não, não sou um homúnculo. Inclusive, sequer sou magi! Não tenho habilidade nenhuma!

Ela sentiu o olhar sobre si e corou levemente, acenando com sua mão para indicar que estava tudo bem.
— Bom, eu sei algumas coisas... Entendo a diferença entre feitiçaria e magia, magos e magis, conheço sobre algumas raças e criaturas... Ah! Também sei o básico sobre aquela associação de magis! — seus olhos rodaram o lugar,como se isso lhe ajudasse a pensar melhor no que Lehane a havia dito. — Ah, sim! Também tenho consciência sobre a Guerra do Graal! Mas nunca vi nenhum servo ou mestre... Eu acho.

Não pode deixar de olhar Skylar nos olhos enquanto esta se pronunciava. Pelo menos não sentiu que ela estava mentindo. Poderia estar errado, mas...

— O que você sabe sobre a Associação?

— A Associação? Bom... — pressionou a ponta do indicador no queixo, se esforçando para lembrar dos termos de Lehane usara. — É uma associação formada por magis que tem como objetivo controlar, dissimular, estudar e desenvolver as taumaturgias...? Ah! Também são os que estão realizando a Guerra desta vez! Antigamente era a Igreja... Eu acho. — franziu o cenho. — Eu só ouvi sobre eles uma vez quando um outro professor da Morgan me explicou!

"Dissimular"? Arqueou uma das sobrancelhas ao escutar isso, lembrando dos apelidinhos "adoráveis" que seus amigos em Elderlain lhe davam. Eon sorriu, voltando a tomar o café tranquilamente enquanto ela se explicava.

— Eh? Outro professor da Morgan...?

É. Pelo jeito a Morgan era bem servida de professores magis.

— Desculpe pelas conclusões.

— Sim, sim! Não sei se conhece ele, pois ia começar o trabalho no mesmo dia que eu. — deu de ombros como se dissesse "fazer o que". — O nome dele era Hayden Lehane, coreano, ex-militar. Já ouviu falar?

— Ah, sem problemas, eu não me incomodo! — sorriu. — Não dá pra saber nada de ninguém hoje em dia, huh?

Fechou um dos olhos, como se estivesse buscando no fundo de sua memória alguma coisa relacionada. O nome, de fato era familiar, mas nunca havia encontrado essa pessoa. Leu ele na lista de funcionários? Na dúvida:

— Uhm, nah. — Voltou a mastigar a comida também, até finalizar.

— Como assim não dá pra saber?

— Bom, era de se esperar. — concluiu, tomando um pouco do café.

— A-Ah, eu não pensei muito no que disse... — começou, incerta. — Acho que é mais pelas aparências mesmo. É a primeira vez que eu saí da minha cidade no interior e... Bom, eu descobri que eu estou em uma cidade que têm uma guerra mágica e que não sou um caso comum graças aos circuitos mágicos. A primeira pessoa que encontrei aqui parecia apenas um ex-militar comum e amigável, quando, no fundo, ele era um Baba Yaga, ou algo assim. — o olhou. — E têm você, Ethan! Quem olha pra ti não sabe que é um homúnculo super habilidoso que lê mãos! — riu.

— ... Baba yaga?

O sorriso quase desmoronou, e então, ele se conteve, segurando-o de modo que não parecesse algo forçado, mas sim singelo. Eon, ou melhor, Ethan estava instruído a elimina-los em pró da Associação. Pelo jeito, tinha um novo alvo e teria que se encarregar dele sozinho; Apesar de que a sensação de que aquela mulher realmente estava perdida - e vendada - em meio a um tiroteio era veraz.

— Espero que esse homem não tenha lhe feito nada estranho.

— Sim, acho que era esse o nome! — sorriu completamente inocente, esperando a próxima fala de Ethan para surpreende-se e se confundir. Mais. — Estranho? Não! Ele só me contou sobre isso e disse que iria me proteger, por causa da guerra e essas coisas... Mas ele sumiu. — inflou as bochechas. — Ele estava sendo perseguido por uma punk e os dois nunca mais voltaram pro hotel. — suspirou. — Já estou esperando por ele há três dias... Mas eu não quero pensar no pior.

— ... Espero que esteja tudo bem. — Estava sério de novo. Iria atrás desse homem com certeza. Não importavam suas intenções, ele era um alvo agora. Nada pessoal.

— Te proteger?

— Sim, eu também... — deixou um semblante preocupado reinar por alguns minutos em sua face. — Mas ele parecia forte, tenho certeza que, onde quer que esteja, está bem! — e sorriu novamente.

— Sim! Fizemos uma promessa. Ele disse que eu, por ter essa quantidade de circuitos e não saber nenhuma magia, estava em perigo na cidade da Guerra. Então ele ficaria perto de mim o tempo todo pra vigiar minhas ações.