Bar do Jack

Em um beco escondido, o bar é conhecido por toda a cidade como uma “hospedaria de confusão”. As luzes são baixas. Há um bilhar ao centro, mesas espalhadas ao redor e as cadeiras rodam de um lado para o outro. As únicas regras aqui são: Se quiser brigar, faça do lado de fora; Se sair sem pagar, o chumbo come solto. Claro que a primeira regra é ignorada na maioria das vezes.

Abre pelo fim da tarde e fecha ao amanhecer.

Drinks gratuitos para Hana eram como bananas caramelizadas para macacos urbanos, se é que estes realmente existiam. Ela possuía um jeito desengonçado, ansioso, sempre gesticulando boca, dedos e olhares para lá e cá. Era faceira, pimpona, moleca. Algo pouco ortodoxo para uma informante de ponta como ela. As luvas de pano com os dedos cortados se moviam enquanto ela tirava o agasalho, depositando-o na cadeira. Logo se esgueirou no balcão, travessa. E como uma aluna vagal que se esparramava na carteira da sala de aula para se espreguiçar; chamou por Jack!

— Jack! Vou querer uma Nevada. — Foi então que se lembrou que tudo seria por conta de Mark naquela noite.
— Nãooo nãoo nãoo! Quero duas Nevadas e dois Martinis! Por favorzinho... — Finalizou meiga e então tornou a atenção para Mark com um sorriso pomposo. — Você esta cheiroso hoje. Perfume novo?

Ficou fazendo boquinha de peixe enquanto esperava pela bebida, desesperada de tão ansiosa.

— Eu já tentei varias vezes pedir algo diferente. Bem... pelo menos nas varias poucas vezes que eu tenho dinheiro. Mas a Nevada e o Martíni sempre vencem. Acho que é por medo de gastar com algo ruim. E mesmo com você pagando, não quero arriscar. Enfim... — riu, balançando a cabeça. — Não me respondeu sobre o perfume. E do que precisa pra hoje? — sorriu pomposa novamente.

Gesticulou os lábios como de costume, ansiosa. Ficou batendo as unhas sobre o balção na ordem dos dez dedos. E então... Finalmente! Jack, com um pano no ombro, vinha trazendo os quatro drinks. Postou um a um na mesa e por fim deu uma batidinha no balcão para abençoar o pedido, se retirando. Toda faceira, ela rapidamente pegou o palito transpassado na azeitona recheada e começou a petisca-la em micro mordidinhas enquanto direcionava o olhar a Mark e levantava as sobrancelhas como quem dia: E aii... Conta!

Riu com enfase, franzindo o cenho.

Ela ouviu atenta enquanto terminava de mastigar a azeitona recheada. E por fim virou o primeiro Martíni, lançando uma careta sobre o vampiro instantaneamente.



— Olhe... Se for exatamente como me contaram, esses caras são realmente trashs. Eu posso sim conseguir os endereços, em menos de dois dias inclusive.

Parou para sacar um cigarro do maço, levantando-o para Jack como se pedisse permissão para tragar ali dentro. O mesmo inclinou um joia com o polegar e deu uma piscadinha a garota.
Ela rapidamente colocou o cigarro na boca e começou a tatear o corpo e o agasalho atrás de si, desesperada, tentando achar o esqueiro que sabia que não tinha.

— Enfim... — ficou com cigarro na boca apenas, sem acende-lo. Gesticulando mãos pra lá e cá, estabanada.

— O problema maior é com relação a quanto o meu esta na reta por isso.
Se de fato estamos falando de Magis que invocam fantasmas do passado para disputarem um jogo doentio
até a morte, com a recompensa sendo um artefato sagrado e onipotente; bem, ai a coisa complica. Não posso te cobrar menos do $3k por isso.

Já estava ao final do ultimo Nevada. Mastigando as azeitonas do outro Martíni também.
Balbuciou um pouco pra lá e pra cá, brincando com o palitinho. Por fim abocanhou tudo de uma vez e lambeu os dedos.

— Compreendi. — disse o encarando. — Bem, deposite nesta conta... Disse entregando um papelzinho com o numero. Como eu disse... $3k.
— Terá os nomes o mais rápido possível.— Pegou o agasalho e ajeitou tudo como deveria, acenando para o Vampiro e se retirando do bar.

A mulher estava quase que literalmente deitada sobre a mesa. Não que tivesse bebido muito aquela noite, mas porque era simplesmente fraca pra bebida. Sequer notou que o homem pagou a conta, estava totalmente alheia ao que acontecia no bar. Até então era somente ela e a garrafa dela. Sequer conseguiu tecer um olhar de desconfiança ao desconhecido quando este se aproximou, apenas resmungou quando ele a levantou.

O "Jack" a quem Mark dirigiu a palavra era apenas um funcionário comum. O que não impediu que realizasse o favor: Ele entregou o saco a vampiro e a última garrafa a mulher, como esta pareceu relutante em ir com o homem alguns momentos justamente por conta da garrafa paga que estava em cima da mesa.

— Boa sorte.