Libraire Divine

-... Nyuuu...

Havia o magoado com a brincadeira? O chateado de alguma forma?

- E-Ei, eu estava brincando! - Sentiu o rosto ficar um pouco mais vermelho. - Se quiser eu volto aqui quantas vezes quiser...

E olhou para baixo, batendo os dedos. Droga, isso a fazia lembrar da universidade que estava, certamente a fazia lembrar.

- Ma-Mas, também vou embora se quiser também...

Dito isso, deu alguns passos em direção da porta, mas parou, olhando ao redor mais uma vez.

Uruk caiu, literalmente do teto. Há alguns instantes ele havia pulado em uma das vigas e estava olhando Uriel. Havia entendido a brincadeira dela, mas não havia gostado e resolveu pagar na mesma moeda.

- Estou aqui, você só esqueceu de olhar para cima. - Disse sorrindo. - Agora, venha aqui e me dê um abraço, estou começando a gostar dos seus abraços.

Dizendo aquilo, o loiro abriu os braços, a encarando.

Deu um pulo de susto e acabou se virando de imediato, o olhando enquanto suspirava, emburrando um pouco.

- Poxa! Achei que tinha me deixado mesmo!

Ficou meio relutante a principio, mas, acabou no fim de aproximando e o abraçou com carinho, sorrindo de leve. Estava realmente se afeiçoando aquela afeto.

Mas...

Se lembrou da conversa que teve com Assassin e acabou suspirando, afastando o rosto para poder o olhar.

- Uhm... Uruk, eu queria conversar contigo... - Olhou para o lado, um pouco sem jeito. - Quando fui para a universidade, foi por que senti que precisava esclarecer a mente e... Eu realmente me expressei mal da última vez... Na realidade eu estou bem nervosa com isso tudo por que nunca realmente fui próxima de ninguém dessa forma...

Lá ia ela ficando sem jeito de volta, se encolhendo um pouco. Mas, respirou fundo e ergueu o olhar para ele, ainda nervosa.

- Eu... Não quero ser apenas uma arma. Não quero ser apenas um objeto, e... Por isso... Eu tenho ido tanto contra as coisas que eu discordo e colocado o que realmente quero... Fiquei perdida a principio e ainda me sinto meio confusa, mas... Teria problema... Se eu fosse... Uma mulher realmente..? E que preferisse ir devagar..?

Estava temendo a pior reação possível. Estava realmente com medo do que aquele homem iria dizer, mas, ainda sim o fez. Bem, era assim que pensou desde o principio, não era? Sim, dizer os seus sentimentos, agir conforme achava correto. Respirou fundo e recobrou sua coragem, aguardando o que estaria por vir.

Abraçando-a, Uruk desceu as mãos até a cintura dela, encarando-a com um sorriso e analisando cada palavra que ela dizia e quando ela terminou, ele simplesmente disse.

- Você não havia dito que eu deveria conquistar você? Se a forma de fazer isso é respeitar o seu ritmo, assim será feito. - Ele a olhou serenamente, como se já tivesse previsto aquele questionamento. - Afinal, um Rei deve saber a hora exata de realizar seus movimentos, não é mesmo? - Ele a indagou e fez uma pequena pausa antes de acrescentar. - Futura Rainha.

Sentiu o rosto queimando de ser abraçada daquela forma, o coração imediatamente acelerou e não pode não sorrir com o que ele disse, definitivamente contente enquanto imediatamente o apertou forte, encostando a cabeça em seu ombro conforme deixava-se sentir melhor.

Definitivamente feliz. Agora sim aquela memória da cobra parecia uma memória muito distante e até mesmo apagada de sua mente quando estava ali junto daquele calor. Suspirou, murmurando na base do pescoço dele.

- Fico muito contente, meu rei...

Uruk afagou os cabelos dela, sorrindo enquanto a abraçava, mas algo o fez parar e afastar um pouco o rosto dela.

- Uriel, chame o seu Servo e retire-se para a sua casa diretamente daqui.

Ao dizer aquilo, o Loiro encarava a porta com um olhar sério.

- Prometa que só vai sair de lá quando eu chegar. Não quero arriscar você na rua agora.

Estava aproveitando verdadeiramente aquele carinho, aquele cheiro, aquele calor... Foi quase um encantamento sendo quebrado quando ele se afastou daquela forma e o olhou um tanto chocada por aquilo e então olhou para a porta, ainda sem solta-lo.

- Uhm..?

Voltou o olhar para Uruk e inclinou a cabeça para o lado de leve, mas, realmente não gostava daquela expressão séria. Acabou sorrindo de leve e aproximou o rosto do dele, beijando-o no canto da boca e voltou a afastar o rosto, sorrindo alegremente.

- Sim, prometo. Estarei te esperando. Mas, o que aconteceu..?

- Algo forte está convidando provavelmente aqueles que são ou foram servos. Por isso você não está sentindo. - Dizendo aquilo, ele olhou para ela.

- Vá para casa e não vá até o lugar. É uma ordem de um Rei. - Ele falou aquilo extremamente sério.

Algo forte..?
Estava um pouco em choque, mas, acenou positivamente com a cabeça, um tanto nervosa pela expressão que ele fez. Desfez o abraço devagar e foi saindo devagar, quase meio que esperando ele sair também e foi até o carro, adentrando neste.

Mas, antes de o ligar, parou um pouco, saindo do carro e o olhou.

- Ei, devo o mandar quando chegar em casa..? Sabe, meu servente... Prometi que não sairia, então...

Queria apenas ter certeza para não fazer nenhuma burrada.

- Faça como quiser, mas fique em casa e me aguarde.

Uma fina aura dourada envolvia o loiro, ele estava começando a ficar sério

Acenou com a cabeça e entrou de volta no carro, ligando-o e logo em seguida partiu.

Estava realmente preocupada, mas, não podia fazer muita coisa agora. Pensou em ir para a casa da mestra do Lancer, mas...

Sim, havia prometido.

Deu uma última olhada para a livraria antes de partir.

-> Casa da Uriel

Estacionou o carro alguns metros da livraria.
Estava nervosa. Não podia negar que estava. Aquele seu cabelo, parecia pesar muito agora, sentia-se desconfortavel em como "seu corpo" ainda não estava "completo". Olhou para a porta e respirou fundo duas vezes.

Tinha decidido não fugir.
Apertou o volante em suas mãos e pegou a bolsa. Ergueu o rosto.

Iria olhar em frente.
Enfrentar o que viesse.
Seja pela vida ou pela morte, pela doença ou tristeza. Sentiu um pouco do chuvisco e se apressou para entrar na loja.

Teve vontade de rir.
Fala sério, tentando posar de fodona e ainda por cima fica com medo de estragar seu visual por conta de uma chuvinha.
Ao entrar na livraria estava rindo, verdadeiramente rindo, de si mesma.

Mas, não havia por que disso agora.
Havia algo para resolver.
Respirou fundo e ergueu o rosto, mesmo que quisesse ficar séria, não conseguia deter o sorriso em seus lábios. Sabia, sentia que era verdadeiro.

Olhou ao redor, saindo da porta para não atrapalhar a movimentação e procurou pelo loiro com os olhos.

Uma moça loira de vestido vermelho quase esbarrou em Uriel enquanto saía da livraria carregando uma bolsa com alguns livros. Era a primeira vez que ela via uma cliente na livraria e quase não pode teve tempo para perceber que atrás dela um homem de terno empurrava um carrinho com diversos livros, pode reconhecer alguns que Uruk havia comentado estar separando para um cliente.

O loiro estava sentado no balcão foleando um livro. Se percebeu a presença de Uriel, pareceu não demonstrar. Estava concentrado sem sua leitura.

- ...

Soergueu a sobrancelha ao vê-los sair e fez um pequeno aceno com cabeça como um pedido de desculpas, mas, estranhou profundamente aqueles ali. Olhou em seguida para Uruk.

Droga, não queria ter que começar a interação, mas parecia que seria obrigada. Podia fazer um pequeno jogo também? ...Não, não seria ela a mesma se o fizesse. Suspirou e se aproximou do balcão, mas, sabia que seria complicado chamar sua atenção sem o ofender.

- Uruk... Eu lhe devo um pedido de desculpas por ter te ofendido. - Olhou ao redor, um tanto preocupada de ter mais alguém ali. - Minha intenção não era essa quando eu disse aquilo.

Bem, agora era esperar para ver se ele a ignoraria.

A Livraria estava vazia, exceto pelos dois. Mas quando Uriel se aproximou, Uruk permaneceu calado até o momento em que ela falou.

- Estou ouvindo. - Respondeu em um tom frio, enquanto lia o livro, sem nem ao menos olhar para ela.

Está de brincadeira.
Suspirou.

- Eu não quis dizer que você não é capaz de perceber a beleza das coisas, mas, o que eu considero um tesouro não é a mesma coisa que ti. - Enfim poderia se explicar, fechou os olhos. - Muitas pessoas nesse mundo não acreditam mais na humanidade, você não é apenas o único; o ser humano deixa ser tomado pelo desejo e a ganância: luxuria, inveja, orgulho, gula... Ódio.

Levantou o olhar, sorrindo de canto.

- Por isso, nada daquilo que me ofereceu é o que realmente desejo, era isso que eu quis dizer. Eu tinha decidido não me conter e ser eu mesma diante de ti, mas, não o fiz da melhor forma. - Passou a mão na nuca, olhando para o lado. - Eu realmente poderia ter feito de forma melhor, mas, enfim, peço seu perdão.

Voltou a fita-lo, aguardando alguma reação.

Virando a página, sem nem ao menos olhar para ela, Uruk falou.

- Você ainda está viva não é? Quer demonstração maior que essa do fato que compreendi perfeitamente o que você quis dizer? - Ele sequer colocava emoção em sua voz, muito menos a olhava.

- Seu desejo não é o mesmo que o meu. - Ele finalmente olhou para ela. - Se o fato de admitir que me enganei a respeito de você e deixar você viva não são provas suficientes de que eu lhe respeitei como igual. Não sei o que poderia ser.

Dizendo aquilo, ele voltou a passar as páginas do livro, sem olhar para ela.

- Tu és incapaz de controlar a ti mesma. De organizar suas ideias e expor elas de uma forma aceitável, que seja capaz de não ofender aqueles que te escutam. - Ele finalmente fechou o livro.

- Esta é a virtude que aprendi há muitos anos com meu único amigo. Saber como tratar aqueles que são diferentes de mim. E você Uriel, a partir de agora aprenderá como fazer isso.

Dizendo aquilo, Uruk a encarava, extremamente sério, como nunca Uriel havia visto.

Deu uma risada suave.

- Sabe, é quase injusto você comparar seu aprendizado com o meu, eu tenho pouco mais de 21 anos e você... 
Bem.

Mas, suspirou e acenou com a cabeça, dando dois passos de distância do balcão. Sentia-se serena.

- Pensei em fugir. Mas, eu não posso fugir de mim mesma, e, seria covarde não vir aqui. - Fechou os olhos, suspirando. - Eventualmente todos vamos morrer, e eu sou como um coelho cercado de lobos...

Mantinha-se sorrindo.

- O que eu desejo é amar e ser amada, mas, eu não posso continuar dessa forma; não posso ser amada sem sequer saber quem eu sou, ou vivendo na sombra daquele passado, ou de outras pessoas.

Dito isso, pegou enfim uma das facas que colocou na bolsa e colocou o corpo da lâmina no pescoço, sentindo um pequeno arrepio junto com um sorriso de sentir o frio do metal.

- É bom. - Fitou o loiro. - Obrigada por me deixar viver, Uruk, mas... Também tenho que matar a mim mesma.

Sim, esse era seu fim.

Pegou o cabelo do rabo de cavalo e guiou a lâmina para antes do rábico, cortando-o um tanto próximo da raiz, mas ainda deixando um pouco de cabelo curto. Foi rápido, simples. Pegou o cabelo e o olhou. Ergueu o olhar para Uruk de volta.

- Que isso marque o início dessa minha nova vida, mesmo que eu morra em breve, quero viver sendo eu mesma até o último instante.

O loiro olhou para ela e volto a abrir livro.

- Dramática. - Ele fez uma pausa, folheando o livro. - Belas palavras. - Novamente aquela pausa, enquanto lia a página. - Então vá e cumpra a última ordem que lhe dei. Viva, lute suas próprias batalhas e pense sobre tudo aquilo que fizer.

Uruk, olhou para ela e esboçou um pequeno sorriso.

- Não pense em jogar esse cabelo na minha loja.

Mostrou a língua como primeira resposta.

Pensou em deixar o cabelo cair como provocação, mas, se conteve, guardando a faca assim como o cabelo.

- Queeee? E dai você tem meu dna para sair criando clone meu por ai? Pffft...

Tinha que admitir que queria ficar conversando ali, mas, era melhor procurar outro lugar para ficar, até por que, ainda tinha outras questões para resolver. Foi saindo mas, parou na porta, erguendo o dedo.

- Ah! Antes que eu me esqueça... - Virou o rosto para ele. - Você não me conquistou, apesar de fato ainda te admirar.

- Eu nem ao menos tentei...

Respondeu friamente, voltando a ler seu livro e aparentemente ignorando Uriel

- Ai meus sentimentos, nunca vou me recuperar disso.

Disse e foi saindo, com um sorriso nos lábios foi até o carro, mas...

Não fazia a minima ideia para onde ir...
Precisava encontrar Avenger, mas, nem sabia por onde começar. Aliás...

- Não faço a minima ideia do que faço agora... Supostamente estou aliada a Ruler...

Tava sem a minima vontade de fazer qualquer coisa. Mas, para onde iria agora..?

Inclinou a cabeça para o lado, batendo o dedo no queixo.

Bem, que se foda, só não queria ficar ali.

-> Visão Geral

Parou o carro devagar ali na frente, olhando para a livraria. Sentia-se um pouco nervosa. Quer dizer, como iria conversar com ele? Tipo, normal? Pegou os óculos escuros e os colocou. Certamente ele os estranharia, mas, se sentiria melhor com alguma coisa ali.

Respirou fundo.

- Ok Uriel, vamos lá.

Desceu do carro e entrou na livraria, procurando pelo loiro primeiramente.

Uriel não avistou Uruk em um primeiro momento, mas viu um movimento entre algumas estantes no fundo da livraria.

...

"Já vi esse filme antes"

Foi dando alguns passos, devagar, já se preparando para o desastre costumeiro.

- Uruk?