Libraire Divine

Pegou o livro e fitou-o brevemente, abrindo enquanto leu rapidamente seu conteúdo. Foi virando o corpo na direção que o loiro tinha ido, mas sem tirar os olhos do livro.

- Uhm... Tudo bem... Realmente hoje foi bem... Agitado...

Soergueu ambas as sobrancelhas ao se lembrar da confusão que tinha se metido.

- Tinha um berserker dirigindo um trator no meio da cidade, Remo, ele ficou insistindo que eu seria a parceira da mestra dele, mas, não gosto dessa ideia. E depois aparentemente meu servo está sendo procurado pela polícia, ele resolveu se virar daquela situação e a Ruler apareceu. Ela mandou a todos irem embora e...

Levantou o olhar, dando um sorriso inocente.

- Aqui estou eu. - Fechou o livro, segurando-o ainda. - Eu pretendia conversar, na realidade.

Uruk simplesmente parou na frente dela e pegou o livro.

- E esse são os lixos desprezíveis que eu havia comentado que permeiam esta era. - Ele disse aquelas palavras com um sorriso inocente.

- Por favor Senhorita Uriel, me acompanhe. - Disse o Loiro enquanto caminhava para trás do balcão e abria uma pequeno alçapão.

- Garanto que o interior é muito mais luxoso que a primeira que você teve.

E assim ele começou a descer pelas escadas.

"Lixos desprezíveis" parecia um pouco duro demais, mas, quem era ela para determinar isso? Preferiu não digladiar, bem, não agora pelo menos...

Ou talvez iria.
Estava mordendo a língua para discordar.

Soergueu as sobrancelhas ao ver o alçapão e inclinou a cabeça de leve para o lado.

- Então... Você realmente mora na livraria? - Foi seguindo logo atrás para onde estava sendo guiada. - Mas, me diga, se não fosse pelos lixos, como poderíamos ter ideia do valor que as coisas realmente preciosas tem? Como reunir cem moedas de cobre para dar o valor de uma de ouro. Se não fosse pelo valor menor, a maior ideia que teríamos seria o sentimento que nos une a isso.

- Não eu não moro na livraria...

A voz de Uruk ficou mais baixa conforme eles desciam e a visão de Uriel ficou embaçada pelo enorme clarão dourado que surgia na frente deles.

Um enorme salão estava ali, luxosos móveis e adornos. Cortinas com uma coloração carmesim enfeitavam os espaços vazios, que eram poucos pois as paredes eram decoradas com belos quadros de paisagens tão bem detalhadas que pareciam ser reais. Em alguns lugares haviam lanças e espadas apoiadas nas paredes ou mesmo em algumas estátuas que ali existiam.
O lugar era quente como um dia ensolarado, mas não era abafado e isto tornava a estada ali agradável.

Mais ao centro do lugar, havia uma pequena mesa com duas cadeiras. Seus tamanhos eram modestos, mas seus entalhes eram bastante trabalhados, dando um ar bastante luxoso ao conjunto. E sobre a mesa, o costumeiro jogo de chá que Uruk havia apresentado antes, juntamente com uma jarra que emitia um pequeno vapor.

Uma coisa que Uriel podia notar é que aquele lugar era muito maior que a livraria.

- Você tem um ponto. Eles nos fazem lembrar do valor de outros, porém sua abundância neste mundo é capaz de ofuscar os belos tesouros que aqui habitam. - Disse ele ainda de costas, enquanto colocava um pouco do conteúdo da jarra dentro da chaleira.

- Espero que aprecie este lugar. - Sorriu Uruk ao se virar para Uriel

Cobriu parcialmente os olhos quando foi tomada por aquela luz dourada, fechando os olhos e ficou parada alguns momentos até se habituar com a visão do lugar, foi então que, literalmente, ficou boquiaberta com o que viu. Deu alguns passos, sem saber direito o que olhar primeiro. Certamente seu olhar repousou sobre as armas e então virou para os quadros.

Por conta do calor contrastante com o frio que enfrentou na noite anterior, retirou o sobretudo, ficando com a blusa presa mas logo se incomodou também, retirando e ficando com a camisa branca, segurando-os em suas mãos enquanto observava seus arredores.

Como podia aquilo ser possível..? Se lembrou brevemente do clarão dourado que visualizara algumas vezes e levou uma das mãos até sua boca, mordendo a ponta do dedo enquanto tentava pensar. Mas, podia ser simplesmente aberto a bel vontade dele? Não, deixou isso de lado, abaixou a mão e caminhou até a mesa ali disposta, mas sem se sentar, acabou apenas se abaixando e começou a delinear os entalhes com o dedo, admirada pela arte.

- Incrível... É muito detalhe, certamente deve ter sido extremamente trabalhoso... - Ficou de pé de volta e respirou fundo, procurando se recompor e sorriu calmamente para o loiro. - Você já chegou a declarar esse lugar no seu imposto de renda? Certamente vão levantar algumas questões sobre como conseguiu isso tudo.

Deu uma risada calma, cobrindo a boca enquanto ria e logo tornou a ficar ali esperando, de pé mesmo enquanto olhava ao redor.

- Mas, Uruk... Uma coisa me veio a mente outro dia... Se você é o Rei dos reis, e claramente tem muita capacidade para viver perfeitamente, por que uma livraria?

Inclinou a cabeça de leve para o lado enquanto o fitava, aguardando a resposta.

O Loiro simplesmente riu, não uma risada rápida como Uriel havia presenciado e sim uma sonora gargalhada.

- Nem ao menos estamos na França no exato momento...

Uruk se sentou enquanto esperava o chá ficar pronto e olhou para Uriel.

- Muito bem observado. O Rei dos Reis poderia ter tudo aquilo que viesse a desejar, eu poderia tomar aquela cidade para mim se fosse de minha vontade. Mas uma livraria permite que eu possa encontrar aqueles que não tornam este mundo tão ruim. - Seus olhos focaram Uriel, como se observassem sua alma.

- No mundo de hoje, poucos são os que vão procurar informações em livros e apenas aqueles que o fazem sabem o custo da busca, bem como o valor da recompensa. - Aquelas palavras foram ditas com a mesma convicção das que ele usou para ameaçar o Assassin.

- Sente-se, não irei cobrar por isso ou pelo chá... - Ele sorria enquanto acenava de forma convidativa para que ela viesse a se sentar.

Acabou sorrindo com aquela gargalhada, até que se sentia a vontade daquela forma. Veio a se sentar quando foi convidada para fazê-lo e se ajeitou calmamente, enrolou o cabelo e jogou-o por cima do ombro esquerdo, olhando para o lado brevemente.

- Não estamos na França, é..? - Acabou suspirando, dando um pequeno riso. - Devo dizer que essa temperatura me faz lembrar de como foi descrito dos livros um clima de florestas tropicais, e admito que gosto da ideia de explorar algo desse tipo ou aprender, mas, acho que não iria conseguir me virar muito bem.

Levantou a mão, mostrando as pequenas cicatrizes em seus dedos.

- Eu já me corto com a agulhas quando estou costurando, imagina numa floresta.

Deu um riso baixo, ainda bem sem jeito Olhou para baixo em seguida, juntando as mãos sobre seus joelhos e começou a brincar com os dedos. Suspirou.

- É meio estranho. Nunca tive realmente uma oportunidade de sentar dessa forma e começar a conversar de forma tão honesta. - Tocar em honestidade fez a despreocupação imediatamente desaparecer do seu rosto e ser tomado por uma leve tristeza, parando de mover os dedos. -... Ontem a noite, Ruler estava emanando mana para chamar atenção dos servos, Berserker e Assassin foram verificar e eu acabei saindo para investigar algumas coisas que vinha acontecendo pela cidade...

Apertou as mãos de leve e imediatamente seu tom preocupado retomou. Apesar de se sentir bem melhor depois de ter confessado, sentia que... Precisava falar isso para ele.

- As aparições pela cidade... - Levantou o olhar, verdadeiramente preocupada agora. - Eu fui atrás de um dos avistamentos e o que tinha lá era um servo: um servo artificialmente invocado. Ativei meus olhos para rastrear a conexão de mana e...

Abaixou a cabeça novamente e respirou fundo.

- Kotomine Kirei... Eu o "conheci"... Muitos anos atrás, quando acordei no hospital, foi ele que contou a mim que minha família estava morta... Eu fiquei grata por estar livre do meu pesadelo, por isso fiquei contente. Ele passou a ir no orfanato que eu ficava até ser adotada pelos Einzbern.

Passou a mão nos cabelos, dando um pequeno sorriso.

- Eu era loira antes, meus cabelos mudaram de cor por conta dos experimentos... Voltando ao assunto, a mana que encontrei no servo lembrava ao padrão mana desse homem...

O pesar em seus olhos eram claros. Passou a mão no rosto em seguida, dando um sorriso um tanto dolorido.

- Quando matamos o espirito, ele agradeceu e disse que foi forçado a me atacar, para me matar.

O semblante de Uruk permaneceu calmo e começou a olhar para a xícara vazia em sua frente.

- Ela não estava atraindo um servo, talvez ela saiba mais do que aparente, assim como você. - Um sorriso malicioso se formou em seus lábios.

- Conhecendo o Kirei, eu diria que ele foi o responsável por tudo que aconteceu na sua família e tudo era para fazer você despertar esses olhos.

O tom de voz dele ficou um pouco mais sério.

- Aquele espirito que você viu é um dos motivos pelo qual eu escolhi aquela cidade... Aquele verme não aprendeu com suas falhas e vai falhar outra vez pelo mesmo motivo...

Rapidamente ele sorriu, ao levantas os olhos para encarar Uriel, recobrando o tom de voz agradável.

- Loira você disse? Certamente era bela, mas a forma como você se encontra hoje tem a sua própria beleza.

Primeiramente o semblante da garota ficou um pouco chocada de ouvir que seria para "despertar" seus olhos. Já tinha preparado a próxima pergunta quando foi tomada pela última fala do rapaz. Ficou boquiaberta e rapidamente ficou corada, seu corpo ficou tenso.

- Qu-Que?! - Deu um sorriso nervoso, olhando imediatamente para o lado e levou o dedo para o cabelo, mexendo nele rapidamente. - E-Espere, não era exatamente isso, eu tinha, o que, 8 anos? Quer dizer, não tem como ser muito bonita tendo 8 anos, mas ainda sim eerrrr....

Deu uma tossida e voltou a olha-lo nos olhos, se esforçando para manter o tom sério, apesar do sorriso nervoso nos lábios.

- Be-Bem, obrigada. Uhmm... - Respirou fundo e procurou relaxar os ombros. - Uhm... Mas... Por que eu? Conveniência? Quer dizer, daria para pegar a vida de qualquer criança e dar um grande trauma para ela...

Parou brevemente, com um rosto chocado e olhou para baixo.

- Tecnicamente não tem nada que não permita que ele não tentou com outras crianças... - Respondeu a sua própria pergunta e acabou suspirando. - Droga, quero entender isso tudo...

Um riso leve veio de Uruk devido a reação dela

- Exatamente, ele provavelmente tentou outra vezes. O único problema é que vocês tendem a apagar os registros de tudo que dá errado, não é mesmo?

Uruk pegou a chaleira e começou a servir um pouco de chá.

- Você não deveria se preocupar tanto com as motivações dele. Por mais que você possa achar que tem algum tipo de relacionamento com ele, afirmo que você não passava de um peão no tabuleiro dele....

Bem, aquilo doeu um pouco.
Mas, apenas deu um suspiro tristonho, sorrindo de canto enquanto fechava os olhos.

- Eu considerei essa possibilidade, por isso precisei ir ver com meus olhos sobre os eventos que estavam ocorrendo pela cidade... - Abriu os olhos de volta, olhando para cima agora. - Fiquei ponderando sobre o que eu vi depois, mas, seria uma tolice querer continuar se importar com uma pessoa mesmo que ela esteja errada?

Suspirou lentamente.

- Por isso, queria conversar com você. Como podemos medir o valor de uma pessoa? Da mesma forma que diversas moedas de cobre precisam ser reunidas para formar o valor de uma dourada, e como o eras e a pressão da terra são necessárias para que diversos componentes se juntem no subsolo para formar uma única pedra preciosa... Eu cheguei a conclusão que cada pessoa inútil nesse mundo é necessária para atestar o valor das pessoas de verdade.

Voltou a olha-lo, estava calma de volta, depois de botar aquilo tudo para fora, sorriu.

- Sem sentimentos tristes, não podemos atestar a veracidade de um momento feliz, não é mesmo? Da mesma forma que ele possa me ver como um peão, posso ser teimosa e querer insistir em "salva-lo" ou salvar o que eu acredito, ou até mesmo querer orgulha-lo matando-o. - Essa palavras foram ditas com um sútil sorriso. - Afinal, o que realmente define o valor de algo eu não sei, mas, eu quero tentar seu o melhor valor que posso de mim.

O loiro não sorriu, permaneceu sério encarando-a

- Há muitos anos eu escolhi dez escravos para me servirem por um ano e no final daquele ano eu descartaria o que viesse a ser o mais inútil. Porém minha surpresa foi em perceber que não haviam inúteis, cada um era precioso e importante a sua forma. Porém nesta era não há tantos assim e a ausência de muitos sequer seria notada...

Ele fechou os olhos brevemente enquanto tomava folego.

- Tu viestes a mim com algum objetivo. Se é para que eu lhe diga que deve se ater a seus ideias e tentar salvar aquele homem, eventualmente tu ficarás em meu caminho e eu terei que perder algo pelo qual desenvolvi certo apreço. Se o motivo for para que ouça minhas palavras dizendo para esquecer e abandonar essas memórias que conserva, certamente falhou. Não cabe a mim dizer aquilo que você deve sentir.

Ao dizer aquelas palavras, ele tomou um pouco chá e voltou a encara-la.

- Como Rei eu poderia ordenar a forma como você deveria viver. Mas ao fazer eu estarei me impondo sobre a tua vontade. Embora a minha seja a vontade de um Rei e assim você deveria se submeter a ela, não posso fazer isso para com você. Pois em outrora eu mesmo não segui aqueles que estavam acima de mim e terminei por perder meu único amigo e me empenhei ao máximo para reparar esse erro. Sei como é sentir a necessidade de fazer algo que as regras não permitem, mas tal atitude não é permitida a uma pessoa como você, ela é reservada apenas aos Reis.

Pegou a xícara enfim e tomou um pouco do liquido, calmamente e de modo tranquilo, abaixou lentamente a xícara e suspirou, absorvendo também as palavras daquele homem.

- Salvar depende muito... Para mim, uma vida sem felicidade é pior do que a morte, por isso, acredito que existem diversos destinos que são piores do que a morte. - O tom frio da sua voz a fez lembrar do tom que ouviu mais cedo e acabou dando um sorriso sútil. - Morte pode ser vista como uma benção para aqueles que não suportam mais a vida ou que estão contentes com a vida que levou, enquanto esta pode também ser vista como uma maldição para aqueles que ainda tem algo que desejam.

Um sorriso malicioso dessa vez surgiu nos seus lábios, talvez um grande contraste com o modo que vinha se comportando, erguendo o olhar para ele.

- Afinal de contas, não é dessa forma que os espíritos heroicos acabam se comportando? Seja para conquistar algo que sempre desejaram ou para viver algo que gostariam, no fim, apesar de tudo, somos todos humanos. Por isso, acabo retornando a meu questionamento: o que define o valor de uma pessoa?

Tomou um gole do chá, estava realmente entretida com a conversa.

- Eu cheguei a conclusão que ser um herói significa se ater a um ideal e não larga-lo, independente das suas consequências, e no fim, isso acaba definindo o valor de uma pessoa: o quão fácil ela consegue vender seus ideais. Por isso... - Voltou a dar um sorriso sútil, apesar das suas bochechas corarem. - Vou tentar erguer meu valor o máximo que eu puder para ser um tesouro digno de ser conquistado, meu rei.

Por um instante o olhar de Uruk o traiu, ele ficou surpreso pela forma como foi chamado, mas rapidamente retomou sua postura.

- O valor de uma pessoa é determinado por suas ações e atitudes. Nada além disso.

Fazendo uma breve pausa enquanto bebia mais um gole do chá e colocava a xícara na mesa, encarou Uriel.

- Você reconhece a mim como seu Rei agora? O que houve com o motivo que me recusou anteriormente?

O loiro sorria para ela, com um olhar convidativo que fazia com que Uriel se sentisse mais confortável com ele.

O rosto da Uriel imediatamente ficou vermelho e virou o rosto pro lado, bufando.

- Ainda está recusado! Um tesouro tem que ser conquistado afinal de contas, eu apenas quero me tornar um tesouro digno disso! O "meu" apenas escapuliu, apenas isso!

Ok, tinha a impressão que apenas estava deixando pior para o lado dela. Melhor mudar de assunto.
Puxou a torta de limão que estava com ela até agora e não tão habilmente pôs a mesa para mudar de assunto. Apesar de ficar confortável, estava nervosa.

- E-Eu também tinha pego isso para trazer. Eu comprei dessa vez, vou fechar minha loja por um tempo, não quero arriscar a vida dos meus funcionários a toa. - Suspirou, procurando relaxar de volta, sentimentos sempre a deixam nervosa. - Você disse para trazer uma torta do sabor que eu quisesse, é de limão, gosto do toque de frutas nas sobremesas, e também... Não sei quando vou poder vir aqui de volta, dependendo de como se sucederem os próximos dias.

O Loiro gargalhou novamente.

- Interessante. Deseja que eu a conquiste, um desejo bastante estranho, mas compreensível.

Imediatamente ele olhou para a torta.

- Então sirva-me por favor, estou curioso para com o sabor.

Disse Uruk enquanto colocava mais um pouco de chá para ambos.

- Então meu futuro tesouro. Seu Rei lhe dá a oportunidade de fazer uma pergunta sobre qualquer assunto. Tem a minha palavra que irei responder e não irei lhe reprender.

O homem sorria ao dizer aquelas palavras e Uriel podia ver que ele estava gostando da ideia.

Bem, tomou a inciativa já que foi permitida. Pegou a torta, ali de dentro e cortou dois pedaços, servindo um deles para Uruk, instintivamente vindo pela esquerda e logo voltou a se sentar, começando a comer seu pedaço.

- Qualquer pergunta é... - Disse depois de engolir e pousou brevemente o talher sobre os lábios enquanto pensava. - Uhm... Eu admito que tem diversas coisas que tenho curiosidade, mas, algumas delas acho que prefiro respeitar, como por exemplo de onde raios saiu esse lugar ou como também quem você é, entretanto, por agora...

Voltou a olha-lo, não é como se fosse fazer aquilo um jogo fácil para ele também, estava decidida em ser bem chata.

- Por que Rei dos Reis?

E começou a comer enquanto aguardava.

O Loiro sorriu, de uma forma muito convidativa.

- Responder o motivo pelo qual eu sou o Rei dos Reis também irá revelar quem eu sou...

O homem ficou extremamente sério.

- Tem certeza que é isso que deseja saber? Se me trair, irá desejar sua completa aniquilação antes de sofrer o que eu reservo a traidores.

- Se fosse do meu interesse lhe trair, eu já o teria feito. - Disse de forma simples e direta, comendo mais um pouco da torta. - Eu aprecio esses momentos, por isso, não desejo o fim destes.

Não esperava realmente que fosse acabar pegando sobre a origem daquele homem na sua frente com aquela pergunta. Por falar nisso, quanto tempo já fazia que estava ali? O sol a fazia perder noção do horário. Acabou suspirando e voltou a olhar para ele.

- Muito bem... Em meu nome e em minha vida eu não vou permitir que ninguém ameace sua vida usando-me como meio para isso, protegendo seus segredos como uma leal serva para seu mestre. - Adorava tocar naquele ponto, por isso, simplesmente sorriu docemente. - Esse é meu primeiro voto de lealdade para ti, meu futuro rei. Se deseja acreditar neste ou não, a escolha é sua, agora, se tenho outra pergunta se não deseja responder a primeira... Onde estamos? De onde vem isso tudo?

- Eu sou o filho de Lugalbanda e da Deusa Ninsuna. Sou o Rei e Protetor da cidade de Uruk. Sou o primeiro Herói e o mais antigo dos Reis. Sou Gilgamesh, o Rei dos Reis, o Rei dos Heróis.

Aquelas palavras ecoaram por todo aquele lugar.

- Eu aceito sua lealdade e serei seu Rei e você será minha serva, parte do meu Tesouro e meu bem precioso.

Aquelas palavras fizeram todo o lugar estremecer um pouco e uma enorme aura emanava do loiro, mais intensa que a da Ruler, porém quente ao toque e aconchegante para Uriel.

- Estamos dentro do meu Tesouro, os Portões da Babilônia. Meu tesouro pessoal que possui a verdadeira origem de tudo que existe.

Espere.
Espere. Espere.
Espera um momentinho ai.

Uriel ficou de pé, um tanto corada por ver o loiro daquela forma e chegou a desviar o olhar instintivamente, erguendo as mãos.

- Espere, espere. - Ok, as coisas estavam indo bem rápido, tava até meio atordoada. -... Um momento.

Definitivamente precisava se recuperar um pouco sobre o que acabou de acontecer ali. Deu alguns passos, respirou fundo e passou a mão na cabeça. Droga, acabou se empolgando, e agora entrou num grande turbilhão de coisas.

- Ok. - Se virou para uhm, Gilgamesh. - Certo, então... Você é um semi-deus, certo? Eu sou uma humana, eu nem pude ainda realmente tomar todo o conceito de me tornar um tesouro mais valioso para entrar na sua erm... Coleção?... ....

Espere.
Espera ai.
Se eu estou dentro do tesouro.

-... Ooohboy... - Passou a mão na cabeça, estava realmente atordoada com tudo aquilo e acabou respirando fundo enquanto virava para o rapaz, colocando as mãos na cintura. - Bem... Definitivamente não saiu como eu esperava.

E deu uma risada sem jeito, olhando pro lado.

Outra vez aquele brilho dourado retomou o estado anterior, o loiro trajava suas roupas usuais e estava sentado comendo um pedaço da torta.

- Devo pedir que não partilhe esse tipo de informação com mais ninguém e você precisa garantir que aquele seu Servo mantenha a língua dentro da boca. Se Kirei descobrir que estou vivo e atrás dele. Esta cidade não vai sobreviver ao embate e se bem me lembro, você disse que gostava dela.

A calma dele chegou a incomodar um pouco Uriel.


- Vamos sente-se, a torta está realmente boa. Eu te trouxe aqui justamente para que uma certa pessoa não pudesse ouvir nossa conversa. Eu ia me encontrar com ele antes de você chegar...

Assassin atravessava as portas da livraria nem notando a placa de "almoço" que estava ali, procurava em desespero sua mestra tentando contato com ela.

" URIEL!!! URIEL!!!!!!! "

Não encontrava sinal dela em local algum conforme percorria a livraria a livraria, sabia que se fosse pego pelo dono do estabelecimento sofreria terríveis consequências, mas sua filha era mais importante.

Bem, estava mais confortável com aquela aparência usual do "Uruk". Acabou respirando fundo e se aproximou de volta, tomando seu lugar e pegou a torta de volta, voltando a comer.

- Eu gosto dessa torta. Essa torta é boa. - Acabou cobrindo a boca enquanto dava um pequeno riso e respirou fundo, bem, era horrível para lidar com nervosismo afinal. - Uhm... Gilgamesh... Quem você ia encontrar?

Perguntou a mérito de curiosidade e se sentia bem acanhada de volta. Por favor, não jogue cantada. Agora não.
Não, ele não iria, era só respirar fundo e tudo iria ficar bem.
Iria terminar sua torta, ir encontrar seu servo, e investigar a universidade.

Depois de terminar seu pedaço, ele colocou o prato sobre a mesa e falou.

- Dois usurpadores se consideram Reis e eu vou visitar ambos. Primeiro falarei com o mais perto e depois falei com aquele que fez uma morada no céu... Eles precisam aprender seus lugares.

Sorrindo para ela, o loiro disse.

- Tenho a primeira Ordem para você. Sobreviva. Eu não quero que você morra neste conflito. - As palavras dele foram imperativas para Uriel

- Quando chegar o momento em que alguém que você não é capaz de enfrentar possa te ferir, chame pelo meu nome e eu irei a ti.

Dizendo aquelas palavras, o lugar todo foi tomado por um enorme clarão e Uriel e o Homem apareceram sentados em cadeiras no balcão da livraria.